Rua dos amores, bairro da saudade - apartamento 33.
Não faz sentido para alguns, mas foi onde minha vida começou e terminou.
Foi onde amei de maneira louca e irracional, uma boca linda e sensual, olhos cor de avelã, franja ainda caindo sobre os olhos (como sempre foi), corpo nu no lençol branco.
A trilha sonora da minha vida não tocava, mas os sons que entravam nos meus tímpanos eram mais suaves e melódicos que qualquer sinfonia que jamais ouvi.
Senti medo, frio e calor. Senti prazer felicidade e horror.
O barulho da água me perturbou a cada passo que a banheira se enchia cada vão de luz que saltava aos olhos se esvaía inconscientemente.
“A meia luz, a dois a sós.......” Nada tão intenso quanto aquele momento, tudo com o que eu sonhava era com o parar do tempo, que as cotovias parassem de cantar, que os grilos congelassem, que a lua adormecesse onde estava.
No apartamento 33 morri, foi onde meio alcoolizado dei meu ultimo suspiro, olhando meu rosto cansado, molhado e suado.
Colocando a roupa para ir embora e jamais voltar.
A velha São Paulo é muito fria a noite, seus becos e vielas tortuosas poderiam garantir com total convicção que jamais voltaria ali, e foi o que aconteceu.
Ficou ainda a lembrança do perfume, as palavras de amor que saiam da sua boca baixinho, refletiam no espelho e voltavam para dentro de você.
“Eu sinto sua falta.” – ainda ouvi você dizer. Mas já era tarde demais, eu já havia partido, meu corpo já não tinha mais vida, minha vida já não tinha sentido.
Hoje lembro-me bem do apartamento 33, do barulho da água, do suor no rosto, e de cada pedaço do perfume que jamais sentirei igual, lembro-me tanto que me esqueço do real motivo pelo qual não voltei.
Lembro-me tanto que as vezes até acredito que mereço.
Uma coisa eu não esqueço, não me sai da mente nunca esse endereço.
Rua dos amores, bairro da saudade - apartamento 33.
A intenção desse blog é ser uma mistura de temperos filosóficos, de cores imaginarias, culinária de poesias. Sentir a cor, tocar o ar, buscar no impossível o finito de algo que é infinito. Vomitar, demonstrar sua inquietude com o absurdo, indignar-se com as atitudes dos políticos. Embriagar-se de cultura, admirar-se com a imparcialidade e suspensão de juízos. Ter direito de dizer tudo que está na sua cabeça, sem medo de preconceitos.
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