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sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Solidão

Quem acredita que o inferno é quente está completamente enganado, o inferno é frio um frio impiedoso que corta a carne como uma lamina bem afiada, um frio que vem de fora para dentro e não há agasalho e nem cobertor que possa impedi-lo. Ao mesmo tempo um frio que vem de dentro para fora, que começa a se formar no estômago e vai escalando a garganta até se transformar em lágrimas.
O inferno não é grande, o inferno é do tamanho de um quarto onde um lado da cama está vazio, é do tamanho de um carro com o banco do passageiro desocupado é do tamanho de um soluço guardado.
O cheiro do inferno tão pouco se assemelha ao cheiro de enxofre que afirmam tomar conta dele, o cheiro real é um perfume doce e familiar, um perfume que insiste em tomar seus pulmões por toda a eternidade e você pode rodar por todo o inferno que este perfume vai estar lá, no travesseiro, nos lençóis, na toalha de banho...
Lá não existem milhões de almas acorrentadas e sofrendo, apenas uma, solitária e única, provando o amargo sabor da solidão em um cálice de vinho doce, e não existe não tomar, é o que há para se beber e se não beber você não morrerá, mas sofrerá com a sede por toda a eternidade.
Quando se está no inferno a comida não tem sabor e arranha sua garganta toda vez que você tenta engolir e é ineficaz tomar alguns goles do cálice que está na mesa para ajudar, pois este está cheio de solidão.
No inferno sua barba cresce de maneira acelerada, seu cabelo nunca está penteado, os quilos que seu corpo perdem são aparentes assim com as olheiras que lhes saltam os olhos, a corrente que prende seu pé é invisível, mas muito eficiente, tanto que você não consegue libertar-se dela, nem ao menos consegue tentar.
Mas a ironia de se estar no inferno é se perguntar o porque de estar lá. Você não é um assassino de crianças, você nunca roubou, respeita os mais velhos, é generoso com os menos favorecidos, você ama ao próximo como a si mesmo e acaba no inferno. Essa busca pela explicação é a corrente invisível que está presa a seus tornozelos.
Estando no inferno se prepare, as musicas que você odiava passam a fazer total sentido e pior penetram sua alma e levam todo o liquido restante em seu corpo na direção dos olhos. Quando menos se espera você é flagrado chorando ouvindo musicas que você considerava brega e que antes não faziam nenhum sentido.
No inferno não existe tempo, os dias passam lentamente cada segundo parece um minuto, cada minuto uma hora e cada hora um dia, as noites então são quase eternas. Dormir é impossível devido ao frio que congela a alma, ao cheiro do perfume a fome ao gosto amargo da solidão na boca.Porém o mais curioso sobre o inferno é que não há porteiro, ninguém vigia você, mas você simplesmente não tem a menor vontade de se levantar e sair dali.

2 comentários:

Victor Rodrigues disse...

Vc tem as mesmas chances de ser literariamente conhecido como Augusto do Anjos..

Desgraça, essa, dígna de aplausos.

Danilo disse...

... muito boa a definição do inferno, lembra o ultimo circulo do inferno de Dante.. Frio, onde as lágrimas congelam nos olhos até corta-los.